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Quando a comida é a melhor amiga e a pior inimiga ao mesmo tempo

Crescemos sem aprender a reconhecer nossas emoções. Não sabemos muito bem de onde elas vêm, não sabemos identificá-las. Desde pequenas, não somos incentivadas a sentir.

Se caiu, não chora, tá tudo bem. Se a amiguinha arrancou o lápis de cor da mão, não fica brava, é errado sentir raiva. Se caiu jogando queimada na escola, não fica frustrada, levanta logo. Se sofreu bullying, não precisa se sentir humilhada, supera, seja forte. Se levou um fora do paquera, não fica magoada, bola pra frente.

Tudo isso nos faz crescer achando que as emoções não são importantes. Que sentir é coisa de gente fraca.

"Na vida adulta, quando eu como ao invés de lidar com uma angústia, o que acontece é que entre mim e a angústia eu construo uma camada bem grossa que faz com que o impacto daquilo seja amortecido. É importante, às vezes as coisas são tão intensas que a gente não suportaria. Porque a gente não vive de um jeito onde a gente tem oportunidade de sentir as emoções desde a infância."
Fabiolla Duarte, criadora do projeto Colher de Pau, um projeto que trata da introdução de alimentos dos bebês, comportamento alimentar das crianças e relação que as pessoas têm com suas comidas. 

Uma educação que não olha para as emoções como um fator importante da vida (e que, portanto, cria adultos deseducados emocionalmente) se junta com a comida de um jeito perigoso: a alimentação passa a ser uma ferramenta que encontramos para não ter que olhar – de verdade – para as nossas questões internas.

Comemos quando estamos ansiosas, bravas, angustiadas. Quando estamos tristes e nos sentindo sozinhas, sem propósito. Quando estamos em depressão. Comemos para lidar com coisas das quais poderíamos cuidar de outros jeitos, mais saudáveis para nossa mente e nosso corpo.

Usar a comida para lidar com os sentimentos em uma sociedade que nos diz que temos ser magras a todo custo é bastante nocivo para as mulheres.

Não é à toa mulheres e meninas são muito mais propensas do que os homens para desenvolver transtornos alimentares. Porque mal abrimos os olhos e um peso enorme recai sobre nossos ombros: precisamos caber no manequim 34 para sermos desejadas. Precisamos ter a pele lisinha, sem celulite, sem estrias. Não podemos envelhecer. Não podemos ter nada fora do lugar. Os fatores sociais e emocionais esmagam e reduzem nossa possibilidade de crescer livremente — sem estereótipos, pressões e prisões.

Precisamos olhar pra nossa relação com a comida a fundo, para além das dietas e da aparência. Precisamos falar abertamente sobre transtornos e sobre o que estamos fazendo com os nossos corpos. 

Esse vídeo da Mirian Bottan faz isso. Dá o play.

Depois do vídeo, um convite para as mulheres que estão olhando mais a fundo para a alimentação: dias 5 e 6 de agosto estamos organizando uma imersão de 2 dias em São Paulo, para explorar a nossa relação com a comida e as nossas emoções através de dinâmicas e conversas - com facilitação da Fabiolla Duarte. Para saber mais e se inscrever, clica aqui. Corre que as vagas são limitadas.

Seguimos juntas.


Anna Haddad é co-fundadora da Comum. Escreve pra vários veículos sobre educação, colaboração, novos negócios e gênero, e dá consultorias ligadas à comunidades digitais e conteúdo direcionado pra mulheres.