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Alguns homens odeiam mulheres e você não tem culpa nenhuma disso

 

Não é você, é ele. Alguns homens odeiam mulheres e não é por ser você, é apenas por odiar qualquer pessoa que se distancie do padrão de qualidade humano que existe na cabeça dele, que é ser homem. Se você não o é, bem, é inferior, de acordo com os parâmetros desses caras. E isso, amigas, não é algo novo.

Na Grécia, muitos anos antes de Cristo, homens já achavam que mulheres não eram suficientemente interessantes, bonitas ou atléticas, então eles preferiam conviver apenas entre homens. Eles mantinham relacionamentos com mulheres, casavam-se, tinham filhos, mas passavam a maior parte do tempo com os amigos ou com pupilos – sim, eles e esses pupilos transavam, mas eles juravam que não era gays, apenas homens que admiravam homens.

A Igreja apareceu e disse que o sexo entre dois homens era errado, então eles pararam de transar, mas como ninguém nunca falou que mulheres eram seres iguais aos homens, eles mantiveram esse velho hábito de se sentir superiores. O tempo passou e esse desprezo por mulheres se manteve. Hoje isso nem é algo muito racional para alguns, apenas foi passado de geração a geração.

Mulheres devem ser agradáveis aos olhos. Mulheres devem servir. Mulheres não devem opinar.

Mulheres devem ser invisíveis – menos quando for a hora de ser colírio. Mulheres não devem ocupar espaços públicos. Mulheres não devem ter voz política. Mulheres não devem. Mulheres não. O nome é misoginia, mas para eles é apenas uma escolha de quem é mais legal, como se nada do que nos fosse ensinado ou estivesse no inconsciente coletivo influenciasse esse julgamento de valor.

Alguns desses homens que odeiam mulheres, que obviamente não são todos os homens, ainda assim se relacionam emocional e sexualmente com mulheres. Alguns não acham que seria apropriado ter um relacionamento com outro homem – outros já não vêm problemas nisso (e não tem mesmo, o problema é odiar mulheres). Eles sentem tesão por mulheres. Eles acham os corpos interessantes e a sensação de inserir seu pênis em um orifício ligado a algo com vida é boa. É claro que essa mulher não deve, jamais, pedir para que ele vá mais rápido ou mais devagar, ou explicar que daquele jeito ela não sente prazer: mulheres são inferiores e mesmo quando ele diz que ama dar prazer a elas, ele acha que sabe melhor do que elas mesmas o que elas precisam.

O ódio pelas mulheres se manifesta de diversas formas, por diversos motivos e recai sobre nós de maneiras diferentes. Mas todas nós conhecemos um cara que odeia mulheres.

Ele pode ter tentado algo com a gente, pode ter sido nosso professor, amigo de amigos, nosso próprio amigo, um familiar ou quem sabe até mesmo nosso pai. Ele não acha que aquilo é ódio, apenas que mulheres não são como homens e que homens são melhores. Ele inferioriza tudo o que acredita ser do universo feminino, de profissões ligadas ao cuidado com o outro a sentimentos, de cores delicadas aos brinquedos. Tudo o que parece “de mulher” deve ser ridicularizado.

Você, amiga, não tem como mudar isso. Você não precisa ficar batendo na tecla de que é uma pessoa e merece respeito. Você não deve esperar nada além de desprezo vindo desse cara. Você, irmã, tem muito mais o que fazer.

Você tem uma vida cheia de possibilidades, um mundo cheio de gente interessante esperando para te conhecer, uma vida sexual cheia de prazer dado por você mesma ou por outras pessoas que não te desprezam. Você tem a chance de olhar para o mundo com os seus olhos, com as suas medidas e não ficar aceitando migalha de amor e atenção de quem acha que você não é boa o suficiente.

Você não é boa, amiga, você é ótima!

Alguns homens odeiam mulheres, você não tem culpa nenhuma nisso e não é obrigada a aguentar esse tipo de estupidez. Você é muito melhor do que isso e merece muito mais do que esse tipinho poderia te oferecer.


Texto publicado originalmente no Yahoo!


Carol Patrocinio é jornalista, feminista e gosta de olhar as coisas por um ângulo diferente. Acredita que o amor muda o mundo, mas que a raiva é o combustível mais potente da revolução. É co-fundadora da Comum, mãe e oferece consultoria para negócios que querem fugir de esteriótipos de gênero.