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10 mulheres do rock pra você olhar e se encher de inspiração

E aí que de acordo com o calendário, estamos na semana mundial do rock, o que é bem interessante pra uma pessoa como eu, que cresci e devo muito do que sou a esse gênero musical. Pra ser bem sincera, vivo de música desde pequena, e uma das partes que sempre me interessou era a história que cada faixa carregava. Quem cantava? Como era a vida deles? E essa moça? Quem andava com quem?

E foi estudando a história desses personagens que me espelhei desde muito cedo (e continuo me espelhando) em mulheres fortes e suas músicas. Dia terrível no trampo? Não sabe se casa ou se compra uma bicicleta? Preguiça de lavar a louça? Acordou se sentindo péssima? Resolveu jogar tudo pra cima? Tenho playlists pra cada situação difícil que vai me ajudar a segurar a onda e me fazer a voltar ao equilíbrio. E - de novo - não é só o poder da música aqui. É a história e força que elas carregam. Sendo assim, separei 10 mulheres que mudaram meus caminhos e percepções, e me ensinaram muita coisa (além de terem músicas incríveis).

Enquanto você conhece todas essas histórias, que tal ouvir essas mulheres INCRÍVEIS e deixar a força delas agir sobre vocês?

Preparei uma lista no Spotify especialmente para esse texto com todas as mulheres citadas, na ordem certinha. 

#Girlstothefront <3

1) Sister Rosetta Tharpe - "mulheres não são criam nada que preste"

Pioneira na música no século XX, foi a primeira guitarrista de estúdio. Cantora, compositora, música, foi a primeira a se atrever a misturar música Gospel com o ritmo ~que estava surgindo~ que seria o Rock and Roll em plenos anos 30. Influenciou nomes como: Elvis, Jerry Lee Lewis, Aretha Franklin, Little Richard, Johnny Cash, entre outros. É conhecida como "Mãe do Rock and Roll" (creditar a criação do gênero que é bom...). Você também pode se interessar pela Big Mama Thornton (que gravou a música Hound Dog antes do Elvis, e por Bessie Smith, ícone do Dirty Blues.

2) Martha Reeves & Vandellas - Sobre nunca desistir

Martha sempre quis uma brilhar na Motown, mas nunca conseguiu um teste. A única coisa que ofereceram foi o trabalho de secretária na gravadora. Martha aceitou, porém não desistiu. Um dia, uma das backing vocals faltou em uma gravação, e Martha ofereceu-se para ocupar o lugar. Deu tão certo que logo ganhou seu próprio girl group que gravou sucessos como Dancing in the Street, que se tornou hino de resistência durante a luta dos direitos civis, e mais tarde fora gravado por Mick Jagger e David Bowie. Você também pode gostar de Sharon Jones que só estourou na meia idade e das Ronettes, que foi o único girl group a sair em turnê com os Beatles.

3) Betty Davis - Sobre ser ~diferentona~ 

Foi Betty Davis que apresentou seu marido, Miles Davis (~uma das figuras mais influentes e aclamadas, que mudou os rumos da história do jazz~), para Jimi Hendrix e todas as tendências psicodélicas e modernas da época, e o inspiraram a fazer experimentações que geraram o mega popular Jazz Fusion. Além disso, a cantora de soul e funk, e ficou conhecida como uma pessoa a frente de seu tempo devido suas apresentações ao vivo e álbum de estréia genial. Você também pode gostar da história da Grace Jones, e como Tina Turner reconstruiu sua carreia do zero aos 42 anos e se tornou a maior estrela do rock nos anos 80.

4) Blondie - Sobre achar que está velha demais pra qualquer coisa

Quando eu tinha uns vinte e pouco anos, queria muito fazer algo legal, que tivesse impacto na vida das pessoas. Mas aos 23 anos de idade já era VELHA na minha cabeça, e para mim, a vida já estava condenada e perdida. Foi aí que descobri que no clipe de Heart of Glass, (do disco que fez o Blondie estourar mundialmente), Debbie Harry, minha musa extrema, tinha 34. Naquele mesmo clipe em que ela era a imagem da perfeição. Foi aí que percebi que não estava velha coisa nenhuma e tinha uma vida inteira pela frente (obg, Debbie). Você pode gostar também de Patti Smith acabando com tudo que você aprendeu na catequese logo na primeira música de seu disco Horses com a frase "Jesus died for somebody's sins but not mine" (isso revirou minha cabeça por semanas), e de Siouxie, a punk mais badass da cena.

5) Runaways - Sobre lutar pelo seu lugar

Joan Jett queria porque queria tocar guitarra como os caras, e não violãozinho folk. Queria uma banda. Encheu tanto o saco de um produtor que foi fazendo os corres e conseguiu montar uma banda adolescente. Que atingiu sucesso mundial. Você também pode gostar de Suzy Quatro, primeira baixista mulher famosa no rock e as carreiras solo da Joan Jett e Lita Ford (as duas guitarristas das Runaways.

6) Bikini Kill - sobre não se calar, fazer escândalo, inclusive

Kathleen Hanna com o Bikini Kill fizeram parte da terceira onda do feminismo. Foram a primeira banda a unir punk rock e feminismo, produzindo fanzines, criando o conceito das Riot Grrrls, desafiando a estrutura do patriacardo dentro e fora do palco e, ao pedir para os garotos fossem para o fundo e as garotas para frente durante suas apresentações, criou sua máxima usada até hoje: girls to the front <3. Você também pode gostar de Sleater-Kinney que é bem nessa pegada e L7 pra quando o negócio for mais nervoso.

7) Hole - a importância de uma anti-heroína te ensinar que você pode fazer o que quiser, e o problema é seu

Quando eu era adolescente, tinha todas aquelas regras pra você ser ~roqueira de verdade~. Não podia se arrumar muito, não podia usar blusinha muito fofa, fazer luzes no cabelo, rosa era PROIBIDO. Eis que surge ela. Courtney Love. Acusada de matar o marido, loira, toda maquiada, de salto, com uma guitarra ROSA, e mesmo assim com um ar que ainda poderia sentar a mão na sua cara se você olhasse torto. E foi aí que eu percebi que poderia gostar de rosa, usar minissaia que não ia mudar em nada quem eu era por dentro, eu não precisava seguir uma regra idiota e sem sentido, e ninguém tinha nada com isso (obg Courtney). Você também pode gostar do moicano e batom vermelho da Brody Dalle da época dos Distillers e das mocinhas do Babes in Toyland.

8) Bulimia - pra quando você precisar das coisas desenhadas

Eu já estava no colégio quando o cd dessa banda foi parar na minha mão. Não sabia ao certo o que era feminismo, mas achava O FIM DO MUNDO ter que passar por um monte de perrengue e homem não. Foi aí que vi o nome do disco: "Se julgar incapaz foi o maior erro que você cometeu", com a principal faixa " Punk rock não é só pro seu namorado". Parece bobo e extremamente óbvio, mas isso teve um impacto TÃO GRANDE em mim na época, que lembro até hoje a sensação do sacode que tomei. Você também pode gostar de outras Riot Grrrls brasileiras como Dominatrix e TPM.

9) Yeah Yeah Yeahs Pra se divertir, plmdds!

Yeah Yeah Yeahs é uma das minhas bandas favoritas, e acredito que a entrega e verdade de Karen O tenha a ver com isso. Selecione as músicas animadas, e faça como ela: escolha suas roupas mais maravilhosas com nada combinando e saia dançando loucamente. Com ela eu aprendi a dançar livremente e me perder na música <3. Você também pode incluir na playlist Le Tigre e Peaches.

10) Deap Vally - sobre essa história de que o rock morreu

O que eu mais ouço é que o rock morreu, que não tem banda que presta, que antigamente...Não, gente. Tem um monte de banda incrível \o/ Dessa nova leva, minhas queridinhas são as meninas do Deap Vally, que fazem um garage rock maravilhoso, defendem um estilo de vida livre, independente, mas não se mete comigo. Você também pode gostar da Alison Mosshart, vocalista do The Kills, e da Sharin Foo, vocalista dos Raveonettes, só pra ficarmos na esfera dos duos aqui :)

Bônus: Against Me! - sobre não ignorar quem você é

Como disse, o aprendizado é contínuo, e a mulher em que mais me espelho pela coragem é a Laura Jane Grace, vocalista do Against Me!. Quando a banda foi formada em 1997, Laura ainda era Thomas James Gabel. A banda alcançou sucesso comercial, e em 2012, já no mainstream, Thomas anunciou que era transgênero, e lidava com essa questão desde criança. No mesmo ano começou o processo de transição, e em 2014 lançou o aclamado álbum Transgender Dysphoria Blues, em que aborda estas questões em músicas incríveis como "True Trans Soul Rebel". Sinceramente não sei dizer a reação do público da banda, mas conheci o Against Me! justamente pela história de Laura, por um amigo branco, cis, hétero que foi hiper impactado pelo disco e saiu espalhando a mensagem. E eu também.


Débora Cassolatto é redatora, DJ, musicista e apresentadora. Comanda os blogs Música de Menina e Ouvindo Antes de Morrer, além das festas No FUN e Gimme Danger. Para saber mais acesse www.debbiehell.com.br ou @debbiehell