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3 coisas que você faz e destroem as suas relações

É comum a gente seguir o script quando o assunto é namoro e relações afetivas. Mas vira e mexe acabamos numa armadilha sem saber direito o que aconteceu nem como fazer para cultivar relações mais saudáveis. E advinha? Nossos problemas nunca são só nossos. Estamos todos vivendo coisas bastante parecidas.

Então, aí vão 3 coisas que podemos cultivar silenciosamente nas relações, e que as matam aos poucos, por mais amor que exista.

1. Relações que não nos impulsionam e não nos ajudam a ser verdadeiramente felizes

É difícil assumir, mas a maior parte das relações que estabelecemos não nos ajudam a ser felizes de verdade.

O exemplo mais óbvio é o de muitos casais, independentemente do formato da relação (monogâmica ou não monogâmica). É comum desenvolvermos ciúme, apego e querermos exercer controle sobre o nosso parceiro/a. E podemos fazer isso de várias formas. Proibir de viajar com os amigos, desmotivar a aceitar uma proposta de trabalho em outra cidade, diminuir com pequenas críticas todos os dias ou manipular com palavras doces para que o outro se afaste daquele amigo que não gostamos.

Quando dizemos que amamos, dizemos também que queremos a felicidade do outro. Mas na maioria das vezes isso não é inteiramente verdade. Queremos a felicidade do outro de forma condicionada e oportuna. Queremos que o companheiro/a seja feliz, contanto que essa felicidade não confronte a nossa, não nos traga nenhum desconforto ou incômodo. Traduzindo, é mais ou menos assim:

"Quero que você seja feliz, amor, contanto que: perto de mim, longe daquele seu amigo Ricardo, sem trocar muita ideia com aquela colega de trabalho, a Joana, sem conversar com nenhuma ex e sem, de forma alguma, fazer aquela viagem dos seus sonhos para os Estados Unidos, de 5 meses."

E a lista de poréns poderia seguir eternamente.

Isso acontece, muitas vezes, porque a gente deposita no outro uma série de expectativas: de proteção, segurança, apoio, carinho, e por aí vai. Então, se aquela pessoa está lá com a única função de nos fazer felizes, de nos completar e atender a todas as nossas necessidades, é claro que o bicho pega quando ela falha nessa missão quase impossível. A Carol Bertolino fala um pouco sobre autonomia afetiva nesse vídeo rápido aqui. Coisa linda. Dá o play.

2. Relações que aprisionam ao invés de libertar

É mais fácil contar para o amigo recente do teatro que você é homossexual do que para o amigo de anos e anos, que te conheceu no colégio. É mais acolhedor dizer para o colega do trabalho que você está pensando em mudar totalmente de carreira do que para a própria irmã. Quem nunca passou por isso?

Não importa se a relação é amorosa, familiar ou de amizade. É comum passarmos anos nos relacionando com pessoas que nos estreitam e aprisionam, de diversas maneiras. Nos restringem à caixinhas e nos mantêm parados ao invés de nos ajudar a ventilar, evoluir, mudar, crescer. E fazemos o mesmo com elas também (e com nós mesmos), de formas escancaradas ou mais sutis.

Fazemos isso frequentemente com quem conhecemos de longa data, irmãos, companheiros de anos, amigos de infância. É como se, de certa forma, congelássemos a pessoa no tempo junto com algumas das suas características - sem parar para pensar que ela amadurece o tempo todo, assim como nós.

"O Fabinho? Ah, aquele menino eu conheço há anos. Ele é lento pra resolver as coisas, mesmo."
"Eu te conheço, Carol. Você é ansiosa demais, sempre foi."
"Ele é igualzinho ao pai, teimoso e intolerante."

Deixamos de ver a pessoa inteira, os movimentos dela no mundo, as transformações diárias. Solidificamos o irmão que já não vemos mais tanto ou a amiga da época da faculdade, colocamos num determinado espaço, com uma certa "etiqueta". Gastamos pouco tempo em investigar de verdade, com perguntas curiosas e abertura, quem essa pessoa é agora, no presente. Para quem sofre o "congelamento", fica difícil realmente se expressar, contar novidades, descobertas, pontos de vista frescos.

Relações assim - se não terminam - seguem superficiais ou geram bastante sofrimento. Paramos de apreciar a pessoa ao lado, ela fica sem graça, o tesão vai embora. Outras coisas e pessoas parecem mais interessantes. Não é falta de amor. Muito provavelmente é só sintoma da rotina, e de uma dinâmica de congelamento e pouco movimento e expansão.

3. Relações de pouca escuta e troca genuína

É comum, na correria do dia a dia - cada um no seu quadrado, com sua vida - estarmos pouco disponíveis de verdade para as nossas relações. Encavalamos compromissos, vivemos sempre no celular. É raro estarmos com alguém, realmente presentes e interessados, dedicando aquele tempo junto para conversar, fazer perguntas genuínas, se abrir, enxergar a pessoa ali na frente - acessar e deixar ser acessado.

Vivemos encontros superficiais, de mais do mesmo. E ninguém está se beneficiando com isso, exceto os donos de restaurantes.

Também, esquecemos que as pessoas ao nosso redor são a nossa maior fonte de conhecimento. Estabelecer relações de aprendizado e troca é extremamente satisfatório, aprofunda vínculos e nos impulsiona. Uma dica é parar sempre para pensar qual foi a última vez que você aprendeu algo com alguém a sua volta. Não importa se é um amigo, a vó ou o namorado/a. Se foi uma receita nova de pão, a história de um bairro de São Paulo, francês básico ou dicas de decoração para a casa nova. O importante é se conectar, aprender e ensinar.

E aí? Que tipo de relação você anda cultivando?


Anna Haddad é co-fundadora da Comum. Escreve pra vários veículos sobre educação, colaboração, novos negócios e gênero, e dá consultorias ligadas à comunidades digitais e conteúdo direcionado pra mulheres.