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Pessoas com deficiência também transam

Ilustração da querida Flávia Totoli. Pra saber mais dela, vem aqui ó.


Esse texto faz parte de uma série sobre sexualidade que vai trazer recortes de diversos tipos e nos ajudar a tirar as amarras que temos em relação ao sexo. Toda sexta-feira você encontra um novo ponto de vista aqui na Comum - coloque na agenda!


Falar sobre sexualidade e deficiência é sempre um prazer e uma dor ao mesmo tempo. 

Digo isso porque eu sempre me alegro em poder informar as pessoas sobre o tema, do meu ponto de vista que, já aviso, não pretende falar sobre como todas as pessoas com deficiência se sentem, pois somos uma minoria bem heterogênea. Não tenho a pretensão de ser porta-voz, eu falo de acordo com minha vivência.

Por outro lado, fico triste por ainda sentir que preciso começar do básico, esclarecendo coisas que já deveriam ser de conhecimento de todos e que não tem a ver somente com deficiência. 

Começo dizendo que sim, pessoas com deficiência têm vida sexual. Parece óbvio, mas não é o que boa parte das pessoas pensam. E esse desconhecimento tem causado efeitos bem negativos nas nossas vidas. 

Primeiro, porque na maioria das vezes uma pessoa com deficiência surge (seja porque nasceu assim ou a lesão se deu no decorrer da vida) num ambiente entre pessoas sem deficiência. É uma nova realidade para aquela família, que não necessariamente vivenciou aspectos relacionados a deficiência. Então, se boa parte da sociedade não acredita que pessoas com deficiência fazem sexo, é muito provável que a família e até a própria pessoa com deficiência em algum momento acredite nessa mentira. 

E quando nós achamos que um assunto não nos diz respeito, não procuramos nos informar. Se já existe uma dificuldade enorme de famílias conversarem sobre sexo com seus filhos, imaginem se existir a crença que não aquela pessoa não irá viver nada nesse sentido. 

E é aí que milhares de adolescentes com deficiência ficam mais propensas a sofrerem abusos sexuais seja por estranhos ou até pelos responsáveis por seu cuidado.

Porque ainda tem mais esse aspecto, muitos de nós, precisam de cuidados pessoais dados por outros e estar atento ao próprio corpo, saber o que é aceitável ou não no que diz respeito ao toque, bem como saber limitar é algo que não se aprende com uma cartilha, de uma vez. 

Passado esse primeiro momento, caso a deficiência tenha se dado já na vida adulta, saber que a vida sexual ainda é possível e tem vários novos aspectos é muito importante na reabilitação, na aceitação do novo funcionamento do seu corpo. É muito importante estar consciente de que nem tudo acabou ali, que uma vida com deficiência não é uma vida sem prazer.

Retirar o foco do sexo como algo padronizado, cheio de regras, permite que as pessoas possam exercer todos os seus desejos, respeitando suas capacidades. Tenha ela deficiência ou não. Abrir a cabeça para perceber que corpos diversos transam ajuda não só as pessoas com deficiência mas pode auxiliar a quebrar prisões dentro do que as pessoas, em geral, acham que é esperado delas no sexo. 

Ainda há um longo caminho até eu sentir que as pessoas vêem, de verdade, pessoas com deficiência como donos de seu corpo e suas vontades, capazes de desfrutar e proporcionar uma vida sexual plena. E eu acho que só dá para encurtar o caminho com informação. Mas não basta eu, pessoa com deficiência falar, é preciso que as pessoas procurem saber de nossas capacidades, experimentando, no lugar de fazer uma sistemática negativa a tudo que é diverso, duvidando ainda que internamente.

A grande mentira de que pessoas com deficiência não têm vida sexual já foi dita tantas vezes que tomam como verdade, atravancando nosso caminho para uma vida sexual plena e feliz. Vamos colocar uma luz nessa verdade. 


Sexualidade: a trilha da mês

A trilha da Comum desse mês é sobre sexualidade feminina. Vamos explorar o tema juntas, através de textos, vídeos, conversas no fórum e práticas. O percurso começou em setembro e está disponível integralmente só pras assinantes. Se quiser saber como se tornar uma pra ter acesso às trilhas, ao fórum e os encontros fechados, clica aqui e vem com a gente. 

O encontro é aberto a todas as mulheres. Saiba mais aqui.


A assinatura mensal da Comum dá acesso a parte fechada, que inclui as trilhas, o fórum, encontros só pra comunidade (on e offline) e desconto em encontros abertos ao público. Você pode pagar R$40/mês ou financiar uma mina que não possa pagar, com R$80/mês. Saiba mais aqui.


Mila Correa é uma pessoa com deficiência, usuária de cadeira de rodas, psicoterapeuta e mediadora. E mais o que a vida me pedir com jeitinho. Um dos Lados / Twitter


Flavia Totoli é nascida e criada em sampa. Sempre com um caderno de rascunhos na bolsa. Apaixonada por imagens e contar histórias (de preferência tudo junto).