Falar de quadrinhos ou nerdices em geral sempre é um prazer pra mim. Fui daquelas meninas que cresceu lendo Senhor dos Anéis, jogando campanhas de D&D, vendo Star Wars, assistindo todos os animes da Rede Manchete, lendo Turma da Mônica e X-Men. Acho que deu pra entender, né?
Assim como o audiovisual, os quadrinhos é uma forma de arte que sempre me fascinou. Por trabalhar com linguagem visual e textual, as possibilidades criativas são praticamente ilimitadas. Temos desde clássicos como Turma da Mônica até materiais extremamente experimentais como Kramers Ergot.
Eu cresci nos anos 90 (quando a internet ainda era discada), e vi os mangás chegarem com muita força no Brasil. Foi quase impossível ignorar as mangakas do CLAMP, estúdio que criou o Sakura Card Captors. Boas histórias, fantasia, magia e ainda questionamentos na medida certa para um público jovem. Tudo feito de uma maneira muito sutil. Tudo feito por mulheres. Isso não é fácil, e as 4 fundadoras do CLAMP fizeram como se fosse um passeio no parque.
Se você ouvia frases como “quadrinho não é coisa de menina”, tá ai um dado bem equivocado. As mulheres representam mais de 40% do público que consome quadrinhos no mundo inteiro.
É por isso que, como videomaker da Comum e amante dos quadrinhos, resolvi começar uma série por aqui. A ideia é trazer referências femininas e dar luz pra elas: histórias bem contadas, ilustradoras, estúdios de minas, mangakas, e daí em diante. Hoje, o pontapé inicial traz um papo delicioso que batemos com a Como a Cris Peter e a Ariane Rauber - duas minas incríveis desse mundo mágico da ilustração, e que fizemos questão de entrevistar pra Comum quando passamos por Porto Alegre (vídeo acima). Tem também 3 nomes de mulheres fodas e referências de leitura que você precisa conhecer.
Vamos lá que é só o começo.
1. Alison Bechdel
Sim! Foi graças a ela que desenvolveram o Teste de Bechdel para obras de ficção. Pra "passar no teste", a obra deve ter pelo menos duas mulheres que conversem uma com a outra sobre alguma coisa que não seja um homem. Parece simples né? Mas várias falham, o que indica preconceito de gênero.
Alison é bem importante por ser uma cartunista americana que já tratava de relacionamentos lésbicos nos anos 80. Ela tem uma pegada mais autobiográfica e de retratar o cotidiano e dramas que as mulheres vivem.
Para ler agora: Fun Home. É a obra premiada da autora, que ganhou um Eisner em 2007. Uma hq autobiográfica e trata de questões como homossexualidade, relações familiares, e outros dramas que vivemos no nosso cotidiano.
2. Raina Telgemeier
Mais uma ganhadora do Eisner e bestseller americana, estourou com sua graphic novel biográfica chamada “Sorria” e desde então vive na lista 10 de mais vendidos da NY Times. Ela trata de questões mais adolescentes, como problemas de autoestima, crises com garotos, relacionamentos entre irmãs e outras mulheres. Tudo com muito humor e caricaturas. Embora fale com um público novo, todas nós passamos por essa fase e nos identificamos.
Para ler agora: Sisters. É a obra premiada da autora e a mais recente. Conta principalmente sobre seu relacionamento com sua irmã.
3. Marjane Satrapi
Todos a conhecem como autora de “Persépolis”, um clássico dos quadrinhos na nossa geração, ganhando até uma animação que concorreu ao Oscar. Além de tratar de questões como religião e política (e sua própria experiência com estes num Irã que caiu em um regime absolutista), vemos a autora também trazer questões do seu mundo interno e da experiência de se tornar mulher com muita naturalidade, de maneira questionadora e empoderadora. Satrapi não é só uma inspiração e referência para as quadrinistas do mundo, ela é quase que a personificação da luta contra a opressão que todas as mulheres sofrem em vários níveis.
Para ler agora: Bordados. É outro quadrinho autobiográfico da autora, que relata as conversas que as mulheres de sua família tinham após o almoço, quando os homens se retiravam da sala para tirar uma soneca vespertina. Só mulher foda nessa família!
Espero que gostem. Semana que vem tem mais.
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Luiza de Castro trabalha como colorista em cinema e vídeo, além de ser a videomaker da Comum. Tem focado seu trabalho cada vez mais em temas sociais e que auxiliem outras pessoas. Amante de cor, cinema, fotografia, muitas nerdices e fofurices. Adora aprender coisas novas, valoriza pessoas e sempre topa uma cerveja ou um café para seguir com conversas e abrir diálogos.