A médica Ivete Boulos fala de seu afastamento da coordenação do núcleo que acolhe denúncias e vítimas de violência sexual na Medicina da USP enquanto lutava por punição de aluno acusado de estupro
Duas afirmações e um número de concordâncias revelador: "A mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada" e "Mulheres que se dão ao respeito não são estupradas"
Não importa quem é a vítima, o feminismo não pode escolher quem defende e deve ser tão abrangente quanto o sistema que busca derrubar. E esse sistema é forte demais.
As mulheres terem que lutar pela fala não é só sobre diálogo e abertura, é sobre dominação e política de gênero. E enquanto isso acontecer, vamos seguir caladas sobre os abusos que sofremos.
Não adianta falarmos só do estupro, crime, tipificado no Código Penal. Precisamos falar de uma cultura inteira que constrói a possibilidade dessa violação de direitos e de como reproduzimos essa cultura no nosso dia a dia.
Mais de 30 homens deitaram-se sobre ela. Mesmo desacordada. Mesmo sangrando. Mesmo doendo. Mesmo sem vida. Mesmo sem alma. Deitaram-se sobre ela porque acreditaram que tinham o direito disso. Um homem havia oferecido aquele corpo a eles. Eles podiam. Mereciam. Eram homens.