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Mais esperança (e dinheiro) nos meus passos

Muitas de vocês sabem lidar com pessoas, cozinhar com maestria, massagear não só o corpo e desatar nós das almas, mas na hora de fazer uma simples conta de porcentagem na calculadora do celular sem o botão “%”... lascou! Ficou incomodada? Então, espero ajudar.

Antes, vou falar um pouco de mim. Eu sou a Camila, tenho 33 anos, não tenho diploma na área de finanças. Aliás, não tenho diploma. Nos meus 20 e poucos anos, abandonei o curso de Artes Visuais por falta de grana e, por orgulho, me aventurei em outras áreas. Minha natureza é impulsiva, compulsiva e adepta ao hedonismo: adoro comer, comprar mimos para os sobrinhos, passear, viajar, ou seja, tudo para ajudar.

Contudo, passados os 28 anos, por conta do retorno de Saturno (ou não), os impulsos e as compulsões melhoraram, mas as sementes plantadas na desorganização financeira já começavam a germinar... e para sobreviver nesse mundo materialista e capitalista, fui atrás de aprender um pouco sobre finanças.

Vale dizer que sempre tive subempregos, não por acaso também porque tive (e ainda tenho) problemas com a autoestima. Nunca me senti capaz de liderar equipes ou motivada a “chefiar” nos moldes corporativos e, como alternativa, para fugir do contato mais íntimo com as corporações, busquei cursos técnicos e dentre eles o curso de Excel.

A primeira dica que posso dar é: façam um curso de Excel! Existem cursos ótimos e gratuitos disponíveis na internet, como o da Fundação Bradesco.

Não desista desse texto só porque falei de Excel! Já tentei usar aplicativos, mas acho que eles ocupam muito espaço no celular. Ainda sou partidária de uma boa planilha! Sem contar que dá para usar a criatividade e personalizá-la, usar cores, formatos de letras e assim o peso dos números diminuem um pouco.

Outra coisa que gostaria de contar para vocês é que, de uns anos para cá, depois de tanto pular de emprego em emprego por insatisfação pessoal, o empreendedorismo surgiu como saída para os infortúnios financeiros.

No entanto, eu não previa que teria que trabalhar o dobro em cima das finanças! Para algumas mulheres, isso pode ser óbvio, mas acredite: eu conheço diariamente muitas mulheres e homens empreendedores que ainda não dão a devida importância do mínimo de controle financeiro.

Se pensarmos em nós mesmos como empreendedoras das nossas vidas, como captadoras de recursos para viabilizar projetos pessoais (como filhos, viagens) ou profissionais (pós-graduação, curso de astrologia), temos que aprender a controlar nossas finanças e assumir o papel de gestoras, ou melhor: de protagonista da própria vida!

Durante muito tempo, por conta de forças culturais, entregamos esse poder para outra pessoa (geralmente pai ou marido) e bem, estamos aqui para nos libertar disso, não? Então, sugiro a princípio que vocês coloquem tudo no papel! Escreva o quanto gasta com alimentação, moradia, saúde, transporte, detalhe os gastos extras (presentes, passeios) e, por último, o quanto que você gasta para investir em você!

Sei que parece impossível sobrar dinheiro para investir em si mesma com tantas despesas e com as coisas cada vez mais caras, mas ao colocar no papel o básico, o digno e o seu potencial, você firma um contrato consigo mesma para cumprir o orçamento. Nós, seres férteis, temos esse poder!

Pensem na máxima da terapia em grupo: “Um passo de cada vez”. Hoje, pegue uma folha sulfite em branco e detalhe sua vida financeira, como ela é, como você gostaria que ela fosse e confie no seu potencial. O segundo passo é ficar amiga do Excel.

E como sei que organizar uma vida financeira não é como arrumar uma gaveta. Finalizo esse texto com um pouco de Cora Coralina, para inspirar:

“Desistir... já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério (...) é que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça”.

Estamos juntas!


Camila Prada, 33 anos, fugitiva da academia, sequestrada pelo capitalismo e intolerante com opressores. Filha de uma guerreira, caçula de três irmãs e educada sobretudo por mulheres. Descobri que sou feminista sendo feminista. Casada e sócia do marido, onde meu papel na empresa é controlar as finanças. Ah! Gordinha e dona da risada mais desvairada do mundo (me convida para um café com bolo e saberá que não estou mentindo).