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Somos atletas da nossa própria Olimpíada

Em ano olímpico tem inspiração extra no ar. Atletas emanam brilho especial, e cativa vê-las preparadas no dia da competição. São fortes, velozes, habilidosas, dá vontade de ser igual. 

O treinamento olímpico, que é uma profissão, é de dedicação intensa e por isso distante da nossa realidade de praticantes. Existem, no entanto, esforços publicitários de trazer a realidade esportiva competitiva para mais perto de nós. Seja ao exibir o cotidiano da atleta e mostrar que ela tem rotina comum como a nossa, ou porque em algum momento já ponderou o que ponderamos também. De preguiça à dores, lesões e conquistas que assistimos à distância, mas são, em sua essência, como as nossas, resultados de um esforço proporcional para comemorar como se não houvesse amanhã.

Bem, essa proporção é que às vezes joga contra. Vejam, o Programa Brasil Medalha do governo federal não deve ser concluído até os jogos. Pior que isso é ele não ter favorecido atletas durante o período de treinos até agora. Sem o apoio necessário até o maior dos esforços pode afastar da sonhada vitória. Se não há intervenção nesse momento para proteger os interesses de quem pratica o esporte, vira negócio puro. E isso também é próximo de nós.

Quando o negócio mancha o propósito do esporte conferindo significado reduzido com parâmetros quantitativos que massacram os qualitativos, de seus processos e resultados, todas sofremos as consequências.

É quando ouvimos: Vai correr só isso? Com esse tênis?! Ou ainda. Correndo isso tudo? Que é, pensa que vai pras Olimpíadas?! Seguido de risos duvidosos.

Críticas pouco críticas parecem não cooperar com os esforços e a dedicação de cada uma de nós, que podemos correr pouco para a referência de quem vê mas o bastante para pensar numa linha de chegada imaginária, de pano de fundo olímpico ou não. Vão te achar muito magra, muito gorda, devagar, desconfiar. Felizmente isso só pesa se lhe for dado importância para que se sustente. É importante reconhecer justamente para saber que não deve ser sustentado.

Fica claro que pouco importa uma opinião desvinculada das delícias dos efeitos do movimento, quando a gente se mexe. Seja por reações circulatórias ou nervosas, parece que o universo conspira a favor quando suamos a camisa e sentimos o batuque do coração dentro do peito. Mesmo nos dias de sensações que o apertam mais.

Aí vale correr! Taí um bom motivo para acostumar as canelas a dispararem, correr para lugares melhores quando preciso, voltar rápido para os bons quando queremos. Correr para o abraço, e para não perder o jogo na tevê. 


Thais Moura é formada em educação física na PUC e na Unicamp, trabalha há 11 anos com parâmetros qualitativos de estilo de vida ativo e qualidade de vida; e criou seu próprio método, que combina atividades que conectam as participantes com o objetivo de condicionar através dos exercícios para manter ou resgatar a autonomia: como pedalar pela cidade, correr, surfar, sentar com conforto em frente ao computador ou carregar um bebê.