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#16 Corpo, ciclos e tempos: de que forma a alimentação pode estar a favor da nossa essência?

Corpo de mulher. A pele que habitamos e que carrega quem somos: emoções, reações químicas, crenças, composições biológicas, ciclos particulares. Moramos dentro de nossos corpos, mas pouco o escutamos. O que essa cólica quer dizer? Por que o fluxo da minha menstruação está mais forte? De que forma posso fazer da gestação ou do puerpério um período mais tranquilo? Entre o trabalho corrido, a cidade agitada, as demandas de amores e amigos, não conseguimos ouvir facilmente o que nos sussurra esse templo incrível que é só nosso. É preciso parar e prestar atenção.

Inspira.

Resgatar a saúde e vitalidade do nosso corpo é também uma redescoberta de nós mesmas. Quando cultivamos esse terreno fértil que somos, temos a possibilidade de expressar nossa essência plenamente. É um abraço que damos em nós mesmas e que passa também pela comida. Preparamos a comida, sentamos à mesa, fazemos o prato: mas estamos olhando para os alimentos? Estamos parando por alguns instantes e realmente enxergando o que temos ali?

A comida tem um poder terapêutico tremendo, capaz de nos ajudar em cada etapa da vida. Porque somos feitas de muitas fases: infância, adolescência, maturidade, maternidade, gestação, menstruação. Algumas são temporárias, outras se repetem ao longo da vida. O fato é que cada momento que passamos tem sua intensidade, seus desafios e seus benefícios. Sim, eles estão ali para nos dizer coisas importantes sobre nossa saúde, nosso bem-estar e nossa essência. Basta que ouçamos atentamente.

Para uns instantes.

E dá uma olhadinha no projeto Ciclos do Feminino, da fotógrafa fotógrafa Grazi Ventura, que documentou com muita sensibilidade as etapas da vida da mulher.

Se pensarmos, por exemplo, na menstruação — ciclo este que acompanha a maioria das mulheres por quase toda a vida adulta —, notaremos que somos educadas a remediar desconfortos. É o mínimo indício de cólica chegar que já tacamos uma medicação para amenizar a dor. Acontece que tanto anticoncepcionais quanto remédios para dor, segundo a especialista de saúde integrativa Melissa Setubal, apenas mascaram e pioram o problema: “Ambos congestionam o fígado e interferem no metabolismo de estrogênio, que é justamente a causa-base das cólicas menstruais”.

E se em vez de recorrer à primeira pílula que esteja ao nosso alcance a gente optar por alternativas mais naturais? Um chá de alecrim ou manjericão, uma porção de amêndoas antes e durante o período menstrual para aliviar as contrações uterinas e uma bolsa de água quente para quando a crise atacar podem suavizar a dor e ainda servir como um momento de acolhimento — seu com você mesma. Lá em seu site, Melissa explica causas, sugere procedimentos naturais e levanta um ponto importantíssimo: estamos olhando para a causa emocional por detrás dessa cólica? O mesmo funciona quando pensamos, por exemplo, na tão discriminada Tensão pré-menstrual. “A TPM é basicamente nosso corpo nos dizendo que nossos hormônios não estão em estado de equilíbrio. Mas o que nos ensinam é que não cuidar das causas desses desequilíbrios e usar medicamentos pode piorar ou causar doenças mais graves, como câncer”, explica Melissa, “Não nos dizem que podemos usar a alimentação para nos ajudar nesses sintomas, não nos ensinam a usar terapias holísticas para ajudar o organismo e a mente a se harmonizarem, não nos ensinam a nos conectarmos com a nossa autoestima para acalmar nossas emoções.”

A comida pode ser uma forma de responder aos chamados de atenção do nosso corpo? Mel, nesse vídeo especial da trilha, nos conta que sim. Ao respeitar nossos ciclos e entendê-los, podemos trazer mais dos alimentos para que eles nos beneficiem nesse momento. E quando falamos nessas ferramentas poderosas e naturais — e tão cotidianas, como as refeições — não estamos falando em utilizá-las apenas quando nos sentimos doentes, mas sim como instrumentos de manutenção do estado de saúde e bem-estar. Não é empoderador saber que a possibilidade de cuidado ou cura está ali, a um palmo de distância?

Experimente

Somos mulheres, somos muitas, mas somos únicas. Apesar de dividirmos tantas coisas em comum, ainda assim meu corpo é diferente do seu. Sou um conjunto de vivências, histórias, memórias, genética, comidas, hábitos. Por isso, o convite é para que, pelos próximos dias, coloquemos a atenção em nossos ciclos e percebamos o que o corpo pede ou mostra. Se você está para menstruar, pode observar sua TPM, por exemplo, e testar alimentos que ajudem a passar por essa fase. Se você está amamentando, pode entender os sinais que seu corpo dá: os seios latejam quando está chegando a hora da amamentação? O leite muda de acordo com o que como? De que forma?

Seja qual for a fase, a ideia é colocar nossa lupa sobre esse feminino sagrado que exala dos nossos corpos e colaborar para que tenhamos ciclos cada vez mais benéficos. Mais que isso: entender nosso protagonismo nessa história. Vamos nos apropriar dos nossos ciclos e fazer disso um ato revolucionário. Vamos resgatar a comida como ferramenta desse processo.

Quero trocar experiências com você. Nos encontramos no fórum.


Gabrielle Estevans é jornalista, editora de conteúdo e coordenadora de projetos com propósito. Nessa trilha, é editora-chefe, participante e caseira.