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#14 Sua autonomia afetiva abraça a autonomia afetiva de outras pessoas?

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“Ele diz que não vive sem mim.”

“Minha companheira fala que sou a razão do seu viver”.

“Minha esposa diz que precisa de mim para ser feliz.”

“Meus namorados são todos muito dependentes.”

Com certeza, em algum momento da vida, já reproduzimos ou já ouvimos mulheres reproduzirem frases similares a essas. Dentro dessas frases, existem sentenças proferidas por nossas companheiras e companheiros e que parecem inofensivas porque vêm travestidas nessa roupagem das declarações intensa de amor. Quando as ouvimos, normalmente nos sentimos importantes, validadas, valorosas.

Às vezes, vamos além, incentivando — mesmo que inconscientemente — essa dependência afetiva. Mas, afinal, será que desejamos também a autonomia afetiva dos outros ou estamos olhando apenas para a nossa?

Se olharmos para dentro com honestidade, muitas das vezes não desejamos. E tudo bem. O intuito aqui não é que lancemos mão de mais um peso que temos de carregar nas costas, mas que notemos de onde vem esse sentimento. Observando essa sensação, conseguiremos mergulhar no que há por trás dela: qual a minha necessidade real aqui? Por que me sinto importante quando alguém demonstra dependência? Todos queremos, em alguma medida, que a outra pessoa nos olhe e veja em nós uma fonte de felicidade. Mas sabemos que não somos capazes de suprir essa necessidade.

Como nos diz Stela Santin, nesse vídeo precioso, podemos apoiar nossas parceiras e parceiros para que eles mesmos encontrem seus recursos internos, para que eles mesmos possam se abrir. Assim, vamos oferecendo esse espaço de autonomia afetiva também para o outro. Vamos regando o florescimento das pessoas a nossa volta.

E isso funciona para quando estamos ou não em relacionamentos amorosos. Podemos olhar para nossas amigas, por exemplo,e nos perguntarmos: Estou exigindo delas? Estou esperando que elas sejam de tal jeito? Consigo entender quando elas estão por uma fase difícil e não podem oferecer mais do que estão oferecendo? Essa é uma boa oportunidade para não só ajudarmos outras mulheres em seus florescimentos, mas também para que pratiquemos, para que estejamos acostumadas a incentivar a autonomia afetiva daquelas pessoas que amamos. Assim, ficará mais fácil quando formos esticá-las para nossos relacionamentos amorosos.

Nossa autonomia começa a se exercer quando também começamos a regar outras autonomias, quando emancipamos as pessoas de nós mesmas. Vamos oferecer esse espaço para quem amamos?

Nossa sugestão de prática

O quanto ajudamos a cultivar a autonomia do outro é um dos mais importantes quando começamos a olhar para nós mesmas em relação.

Por isso, essa prática, apesar de bem simples, é profunda e reflexiva. Serve para olharmos um pouco para como estamos operando nas nossas relações: com um óculos de medo, apego, dependência, ou de mais leveza e soltura.

São 3 perguntas para você ler, meditar e tentar responder para si mesma, mentalmente, com honestidade. Se você está em uma relação agora, responda pensando nela. Se não está, responda pensando na última relação amorosa significativa que teve. Vamos lá:

1. Em que medida eu, de fato, impulsiono a vida do meu parceiro/a como um todo? Abro caminhos, incentivo, sirvo de catapulta? Eu apoio ele/ela para que faça o que quer fazer, se conecte com outras pessoas e assuntos, viaje, estude, saia com os amigos, se desenvolva como pessoa, floresça, independentemente dos meus medos e incômodos? (Ou, do contrário, imponho restrições, críticas, julgamentos e limites com frequência?)

2. Eu aceito as mudanças do meu/minha parceiro/a? Deixo que ele/ela mude, flua, cresça, troque de caminhos, se movimente? Estou aberta para que uma nova pessoa se apresente a minha frente todos os dias? (Ou, do contrário, tenho medo de mudanças, solidifico e engesso, evito o novo por inseguranças?)

3. Quando a gente diz que ama, diz também que quer a felicidade do outro. Mas que felicidade? Em geral, queremos que o outro seja feliz dentro dos nossos termos, sem que soframos nenhum incômodo ou desconforto emocional. Por isso, criamos restrições e limites. O quanto a felicidade que você deseja para o/a seu/sua parceiro/a é condicionada ao seu próprio bem-estar e satisfação emocional? O quanto você só deseja que seu/sua parceiro/a seja feliz contigo, nos moldes de relação que você quer e imagina?

Boa sorte.


Te vejo no fórum. 


Gabrielle Estevans é jornalista, editora de conteúdo e coordenadora de projetos com propósito. Nessa trilha, é editora-chefe, participante e caseira.